A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.
( Adélia Prado)
3 comentários:
Sensualíssimo e ao mesmo tempo muito belo!!
linda...
Belo poema, Téia! Também você se sente "aprisionada" nas malhas da poesia? Eu, não! Gosto de alguma poesia, mas prefiro ideias claras e filosóficas sobre a vida. Talvez perca alguma leveza de espírito mas ganho em realismo. Se gostar de discutir ideias, visite o meu blog "Em nome da Ciência". Cordiais saudações e divirta-se que a vida é curta...
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