quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Sedução




A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.


Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.


Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.


Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.


Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.


Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.


É de ferro a roda dentada dela
.

( Adélia Prado)   

3 comentários:

mfc disse...

Sensualíssimo e ao mesmo tempo muito belo!!

Sandra Krah disse...

linda...

Francisco Domingues disse...

Belo poema, Téia! Também você se sente "aprisionada" nas malhas da poesia? Eu, não! Gosto de alguma poesia, mas prefiro ideias claras e filosóficas sobre a vida. Talvez perca alguma leveza de espírito mas ganho em realismo. Se gostar de discutir ideias, visite o meu blog "Em nome da Ciência". Cordiais saudações e divirta-se que a vida é curta...