sábado, 10 de setembro de 2011



A Um Ausente
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

(Carlos Drummond de Andrade)

7 comentários:

Carmen Troncoso Baeza disse...

Poesia triste y la esperanza de una respuesta que nunca acaba, un abrazo,

mfc disse...

Um poema de uma beleza triste!
A vida surpreende-nos com a morte quando menos esperamos.

Rodrigo de Assis Passos disse...

Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar com o que eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Fernando Pessoa

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Querida amiga

Há palavras
tão inundadas de vida,
que parecem nascidas
de nós...

Viver é sentir os sonhos
com o coração.

Violeta disse...

Hola!!!

Me estoy pasando por los Blogs ha saludar tras las vacaiones! Q tal todo??

Bss de color Violeta...

Thay Gomez disse...

Drummond é eterno, não? Amo os poemas deste homem, fazem um bem à alma. Ainda hoje, reli O Homem, As Viagens e os olhos sempre respondem antes de mim ^^

Beijos Deia!!

This Gomez
Steampink
Canto e Conto

Marinha disse...

Drumond e a verdade de uma vida contida nas palavras! Adorei!
Bjo e paz para ti, querida.