terça-feira, 14 de outubro de 2014

Sorri quando a dor...



Sorri quando a dor 

Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz

(John Turner e Geoffrey Parsons)

O VELHO E A FLOR



O VELHO E A FLOR

Por céus e mares eu andei,
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber
O que é o amor.

Ninguém sabia me dizer,
Eu já queria até morrer
Quando um velhinho
Com uma flor assim falou:

O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta 
em pétalas de amor.

(Vinicius de Moraes)

Retrato



Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro, 
nem estes olhos tão vazios, 
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração 
que nem se mostra. 

Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
- Em que espelho ficou perdida 
a minha face?

(Cecília Meireles)

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Musa Consolatrix...

Musa Consolatrix

Que a mão do tempo e o hálito dos homens 
Murchem a flor das ilusões da vida, 
Musa consoladora, 
É no teu seio amigo e sossegado 
Que o poeta respira o suave sono. 

Não há, não há contigo, 
Nem dor aguda, nem sombrios ermos; 
Da tua voz os namorados cantos 
Enchem, povoam tudo 
De íntima paz, de vida e de conforto. 

Ante esta voz que as dores adormece, 
E muda o agudo espinho em flor cheirosa, 
Que vales tu, desilusão dos homens? 
Tu que podes, ó tempo? 
A alma triste do poeta sobrenada 
À enchente das angústias; 
E, afrontando o rugido da tormenta, 
Passa cantando, alcíone divina. 

Musa consoladora, 
Quando da minha fronte de mancebo 
A última ilusão cair, bem como 
Folha amarela e seca 
Que ao chão atira a viração do outono, 
Ah! no teu seio amigo 
Acolhe-me, — e terá minha alma aflita, 
Em vez de algumas ilusões que teve, 
A paz, o último bem, último e puro! 

(Machado de Assis')٠·* ઇઉ