quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vaga, no azul amplo solta, vai uma nuvem errando...



Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.
O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.
E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.
Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.
Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.


(Fernando Pessoa)

5 comentários:

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Que pérola!!!

João Vitor Fernandes disse...

não choro passados
nem sorrio o futuro
vido cada dia a dia
vivo nas nuvens
escondendo o sol
trago comigo a chuva.



Beijos querida.

Sempre Pessoa.

mfc disse...

Ele conhecia por demais a natureza humana e sabia traduzi-la para nós em imagens lindas!

CaFoFo online@ disse...

Eu jurava já tava te "seguindo" faz tempo Deia, mas sempre é tempo!!

Nem poeta consegue definir certas "dores" nao é. Quem somos nós, entao.

Linda escolha, amiga!

beijinho

Penélope disse...

Nosso poeta MAIOR sabia de tudo - principalmente do AZUL.
Abraços